Quando se fala em fertilidade, muitos pensam imediatamente na ovulação, no esperma ou em tratamentos médicos. No entanto, um dos factores mais relevantes — e muitas vezes negligenciado — é o peso corporal. O IMC (Índice de Massa Corporal), que é uma forma simples de relacionar o peso com a altura, tem um impacto directo e comprovado na fertilidade, tanto em mulheres como em homens.
Este artigo explora, em profundidade, o tema “Peso Corporal (IMC) na Fertilidade”, explicando como valores de IMC fora do intervalo ideal podem influenciar negativamente o equilíbrio hormonal, a ovulação, a qualidade dos espermatozoides e o sucesso de tratamentos de reprodução assistida. Com base nas evidências mais actuais, mostramos também o que podes fazer para encontrar o equilíbrio e aumentar as tuas hipóteses de engravidar.
O que é o IMC e como se calcula?
O Índice de Massa Corporal é uma fórmula simples:
IMC = Peso (kg) / Altura (m)^2
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os valores de referência são:
- Abaixo do peso: IMC < 18,5
- Peso normal: IMC entre 18,5 e 24,9
- Excesso de peso: IMC entre 25 e 29,9
- Obesidade: IMC ≥ 30
Embora o IMC não meça directamente a composição corporal (massa magra vs. massa gorda), ele é um indicador útil e fácil de aplicar em consultas clínicas, especialmente como ponto de partida.
Como o IMC influencia a fertilidade feminina
1. Baixo peso (IMC < 18,5)
Mulheres com IMC abaixo do normal têm maior probabilidade de sofrer de:
- Ciclos menstruais irregulares ou mesmo amenorreia (ausência de menstruação)
- Anovulação crónica, ou seja, ausência de ovulação
- Desequilíbrios hormonais, incluindo níveis baixos de estrogénio
Estes factores tornam a concepção mais difícil e aumentam o risco de complicações na gravidez, como aborto espontâneo e bebés com baixo peso à nascença.
2. Excesso de peso e obesidade (IMC > 25)
Mulheres com IMC elevado enfrentam também desafios significativos:
- Síndrome dos Ovários Poliquísticos (SOP) é mais prevalente em mulheres com excesso de peso
- Ovulação irregular ou ausente
- Resistência à insulina, o que pode agravar a infertilidade
- Desequilíbrio hormonal, com níveis elevados de androgénios (hormonas masculinas)
- Menor taxa de sucesso em tratamentos de reprodução assistida como FIV
Além disso, o risco de complicações gestacionais, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional, também é superior.
O IMC e a fertilidade masculina
Embora se fale menos da fertilidade nos homens, o IMC também afecta:
- Contagem de espermatozoides: excesso de gordura corporal pode reduzir a espermatogénese
- Qualidade do esperma: a obesidade está associada a motilidade reduzida e formas anormais
- Desequilíbrios hormonais: como redução da testosterona e aumento do estrogénio
- Disfunção eréctil: mais comum em homens com obesidade ou síndrome metabólica
Manter um peso saudável pode melhorar significativamente os parâmetros seminais e a performance sexual.
O papel da gordura corporal na função hormonal
A gordura corporal não é apenas um tecido inerte. Ela actua como um órgão endócrino, produzindo substâncias como:
- Leptina: que afecta o eixo hipotálamo-hipófise-ovário
- Adiponectina: envolvida na sensibilidade à insulina
- Citocinas pró-inflamatórias: que promovem inflamação crónica, prejudicando a função reprodutiva
Tanto a carência como o excesso de gordura corporal podem perturbar o equilíbrio hormonal necessário para a fertilidade.
Como atingir e manter um IMC saudável
- Avaliação nutricional individualizada
- Consultar um nutricionista pode ajudar a criar um plano adaptado às necessidades hormonais e metabólicas.
- Actividade física regular
- Caminhadas, natação, yoga e exercício moderado melhoram a circulação, reduzem o stress e favorecem a ovulação.
- Gestão do stress
- O stress elevado pode causar desequilíbrios hormonais. Técnicas de relaxamento, meditação e sono adequado são essenciais.
- Acompanhamento médico
- Controlos hormonais, análise do ciclo e exames de fertilidade devem fazer parte do processo de planeamento da gravidez.
IMC e tratamentos de fertilidade
O IMC é um critério importante na triagem para tratamentos como:
- Indução da ovulação: mulheres com IMC muito alto ou baixo respondem de forma menos previsível
- Fertilização in vitro (FIV): a taxa de sucesso é afectada pelo peso corporal
- Inseminação intrauterina (IIU): também tem melhores resultados em mulheres com IMC equilibrado
Algumas clínicas estabelecem limites de IMC para certos procedimentos, dada a correlação com os resultados e riscos envolvidos.
Mitos sobre peso e fertilidade
- ❌ “Mulheres magras engravidam mais rápido” — muitas mulheres com IMC baixo têm ciclos anovulatórios
- ❌ “Apenas a obesidade extrema afecta a fertilidade” — até ligeiros desvios podem impactar a ovulação
- ❌ “Homens com excesso de peso não são afectados” — os estudos mostram o contrário
O ideal é encontrar o equilíbrio individual com base na saúde e não em padrões estéticos.
Quando procurar ajuda profissional
Se estás a tentar engravidar há mais de 6 meses (com mais de 35 anos) ou 12 meses (com menos de 35), e suspeitas que o teu peso possa ser um factor, consulta:
- Ginecologista ou especialista em fertilidade
- Nutricionista com experiência em fertilidade
- Endocrinologista, se houver suspeita de desequilíbrio hormonal
Conclusão
O IMC pode parecer um número simples, mas é um indicador poderoso da saúde reprodutiva. Tanto o baixo peso como o excesso de peso afectam a ovulação, os níveis hormonais, a qualidade do esperma e até a resposta a tratamentos de fertilidade.
A boa notícia é que o peso é um factor modificável. Com apoio, acompanhamento médico e mudanças graduais no estilo de vida, é possível melhorar significativamente as hipóteses de concepção.
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